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"Sem normas não há indústria de petróleo"

Shiniti Ohara, Gerente Geral da SEAPOS Ltda (Shell E And P Offshore Services Ltda) no Brasil, explica como a companhia mantém a segurança em suas plataformas.

Como é tratada a questão da segurança nas instalações da Shell a serviço em alto-mar?

Primeiramente, é importante ressaltar que sem normas de segurança, que sejam efetivamente respeitadas, não é possível existir indústria petrolífera. Acontece que a atividade de extração é uma operação de alto risco e que envolve sempre um esforço em equipe. Quando tudo dá certo parabéns para todos, pois estamos cumprindo nossa rotina. Quando dá tudo errado, temos como consequência acidentes graves como o chamado blowout, que é simplesmente uma erupção incontrolável de hidrocarbonetos ou petróleo.

Mas isso é comum?

O último grande blow out seguido de incêndio no Brasil aconteceu no campo de Enchova, na Bacia de Campos, em 1987. Quando ocorre esse tipo de acidente, quase sempre perde-se por completo as instalações. Isso sem falar nos danos ao meio ambiente. Num caso específico no Golfo do México, o incêndio durou seis meses até ser controlado. Voltando à sua pergunta, por isso que a indústria petrolífera é tão controlada. Aqui no Brasil, além de seguirmos as normas do American Petroleum Instutute (API), também cumprimos as determinações da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), além das normas internas de cada companhia operadora de petróleo.

Como é evitado esse tipo de ocorrência?

Seguindo o exemplo de outros países, o Brasil adotou uma norma importantíssima que é a zona de segurança em torno das plataformas. Isto é, num raio de 500 metros em volta das instalações são proibidas a navegação e a pesca. Sem esse tipo de controle, seria extremamente arriscado utilizarmos sondas de posicionamento dinâmico (sem âncora para se fixar e que dependem de sistemas de satélites e acústicos para manter a posição em relação ao poço no meio do oceano). Além do que, equipamentos imprescindíveis como o BOP (Blowout Preventer) podem ter seu sistema de controle danificado pela linha de pesca e anzol ou colisão de barco com a plataforma. Imagine um jogo de válvulas com 18 metros de altura e 200 toneladas capaz de aguentar uma pressão 500 vezes maior que a necessária para encher o pneu de um carro. Apesar de totalmente automatizado, esse tipo de aparelho, até pela natureza de sua funcionalidade, deve ser operado com máxima cautela. Isto é, colocá-lo em serviço numa área onde trafegam outras embarcações é um risco para todos.

Dia após dia, as plataformas produzem lixo. Esses dejetos, de alguma forma, podem representar perigo para outras embarcações?

De maneira alguma. Existem várias normas que seguimos, inclusive internacionais, para evitar esses problemas. O trabalho começa na separação do lixo dentro das próprias plataformas. Todo lixo - tipo sucata, plástico, óleo usado, etc - é levada para a terra via rebocador e depois separado para reciclagem. Apenas restos de comida triturados podem ser lançadas ao mar.

Finalizando, existe algum tipo de preparação especial para a mão-de-obra que trabalha nas plataformas criar uma rotina ainda mais segura?

Todos os operários alocados em plataformas contratadas pela Shell passam por dois cursos básicos: um de sobrevivência no mar e outro de segurança industrial. Os treinamentos de combate a incêndio e evacuação da plataforma são semanais. Além dessa preparação, a companhia ainda solicita um curso para situações limite, chamado HUET. Por exemplo: imagine o caso de um helicóptero cair no mar e ficar de ponta cabeça dentro da água. É para esse tipo de situação que preparamos nosso pessoal. Para isso, mandamos nossos funcionários para a Escócia (no Brasil, a Marinha oferece curso semelhante), onde é ministrado esse tipo de treinamento. Mesmo após o diploma, a companhia continua investindo oferecendo um pacote de reciclagem desse mesmo curso de dois em dois anos.


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